Por Dr. Luciano Marega
MV CRMV SP 7025
Tradução de texto do livro: Lameness in Cattle
Autores: Paul R. Greenough e A. David
Weaver, 1997
Third Edition, Página 109 - 111
FISSURA VERTICAL
DEFINIÇÃO
Semelhante a uma rachadura na areia (sand crack), a fissura vertical
é caracterizada pela separação do perióplio e camada córnea da banda coronária
e estende-se por uma distancia variável na muralha da unha.
LITERATURA
A literatura veterinária é escassa sobre a etiologia da fissura
vertical. Em um estudo realizado por Clarkson MJ, et al (1993), é a primeira
dentre as condições causadoras de dor em vacas de leite, mesmo assim a
incidência foi extremamente baixa. Em contraste, num outro estudo, Westra 1981,
encontrou uma incidência extremamente alta em gado de corte e 2,7% dos animais
que apresentaram fissuras verticais apresentaram claudicação (manqueira).
INCIDÊNCIA
A incidência de
fissura vertical em vacas leiteiras é pequena, Clarkson MJ (1993) encontrou a
lesão em somente 38 de 6901 animais avaliados. Podem ser encontradas
ocorrências maiores, pois a incidência de manqueira nestas condições é baixa e
as lesões podem passar desapercebidas, camufladas pelo esterco seco aderido às
patas. Segundo Weaver AD (1986), historicamente no Canadá a incidência de fissuras
verticais em gado de corte sempre foi alta com média de 37,2% e variações
individuais de 20,5% e 63,3% nos rebanhos. O número de vacas afetadas em cada
fazenda foi diferente numa mesma região e não parece estar relacionada à
consistência do solo. Em um estudo, no Canadá, Goonewardene LA (1995) reportou
uma prevalência de 22,7% de fissuras verticais em vacas de corte à pasto. De
1191 fissuras verticais estudadas, Weaver AD (1986) encontrou 85,6% nas unhas
laterais dos membros anteriores. Este resultado confere com 80,6% encontrados
em outra investigação realizada por Goonewardene LA (1995), onde 62% dos
animais apresentaram uma fissura vertical, 29% duas, 5,4% três e 3,4% quatro ou
cinco. Neste mesmo trabalho, as vacas de corte afetadas por fissuras verticais
eram um ano e meio mais velhas e 43 quilos mais pesadas, quando comparadas com
as vacas que não tinham as lesões. Este dado é sugestivo de que a suplementação
de animais mais velhos resulta em um maior peso corporal e aumenta o risco da
ocorrência de fissuras verticais. As fissuras verticais podem trazer prejuízos
econômicos quando a incidência é alta, causam manqueira e descarte de animais
produtivos precocemente.
ETIOLOGIA
E PATOGENIA
A lesão começa
com uma ou mais fissuras finas transversais estendendo-se distalmente do cório
perióplico e banda coronária . A lesão ocorre a partir de uma considerável
interrupção da estrutura do cório. A fissura pode se estender distalmente e
tornar-se facilmente visível na face dorsal da muralha do casco. As grandes
fissuras, usualmente possuem bordas esfarrapadas e podem apresentar
espessamento da muralha em uma ou ambas as bordas. A resolução natural é rara.
A causa da fissura
vertical é desconhecida. Tem havido especulações sobre a significante ou
relativa importância de vários fatores contribuintes incluindo trauma,
desidratação, laminite e deficiências minerais.
Historicamente
acreditava-se que a doença era causada por fatores que desidratavam as unhas, causando
redução da umidade e perda de espessura externa. O termo fissura na areia (sand
crack) foi encontrado em livros de ferrageamento do século 18, associados com
danos mecânicos causados às unhas.
A alta
incidência na unha lateral sugere um componente anatômico na etiologia. A unha
lateral tem um significante maior contato com o solo do que a unha medial.
Segundo Scott GB (1988) os membros anteriores carregam mais da metade do peso
corporal do animal. A inclinação dos dedos da frente (como pode ser hereditário,
segundo Greenough PR, et al, 1991) é
mais íngreme do que dos dedos de trás. A lesão ocorre no ponto central da
muralha dorsal da unha, diretamente acima do, não resistente, processo extensor
da falange distal. Como este fator está presente em ambos animais, afetados e
não afetados, não pode ser considerado um fator predisponente, porem pode
explicar a localização da lesão.
A fissura
vertical em vacas de corte, pode ocorrer associada a outras diferentes
anomalias da superfície da parede da unha. Algumas podem ser remanescentes da
laminite crônica, outras afetando as unhas distintamente como as linhas de
estresse.
Estas
observações combinadas com o consistente achado de que a condição possui maior
prevalência em animais de corte confinados é indicativo de fatores relacionados
a deficiência nutricional.
A função dos
minerais na etiologia das enfermidades das unhas não é conhecida. A deficiência
de cobre e zinco pode afetar a pele e os pêlos dos animais de um rebanhos. Eles
são elementos essenciais para a produção da boa qualidade do tecido córneo das
unhas. O aspecto é piorado por baixos níveis de selênio e altos níveis de
molibdênio. O PH do solo, a presença de sulfatos na água de bebida e nas
pastagens ou forragem leguminosa também afetam a equação. Evidências empíricas
baseadas nas divulgações para comercialização de suplementos minerais sugerem
haver algum benefício. Suplementos deveriam ser formulados estrategicamente
para ajustar-se às circunstâncias individuais.
DIAGNÓSTICO
As fissuras
verticais usualmente ocorrem na superfície dorsal da parede da unha, onde a
articulação interfalangeana distal está protegida pelo processo extensor. A lesão raramente ocorre acima da borda
abaxial do processo extensor, onde a articulação dorsal está totalmente superficial.
Se ocorrer uma infecção na fissura vertical, nesta região, há o risco de a
infecção atingir a articulação interfalangeana distal do dedo.
A fissura
vertical foi classificada em quatro tipos:
Tipo1 – Limitada
à banda coronária.
Tipo 2 – Da banda
coronária até o meio da unha.
Tipo 3 – Da
banda coronária até a porção mais distal da parede da unha.
Tipo 4 – Do meio
da unha até a porção mais distal da parede da unha.
Estes tipos
provavelmente representam os estágios de evolução da fissura vertical. No tipo
4, a lesão está praticamente recuperada. Os tipos 1 a 3 representam a
classificação quanto a gravidade. No tipo 1 não são observadas as bordas da
fissura. No tipo 3, a lesão é caracterizada por uma abertura, com bordas
esfarrapadas e pode haver exposição do corio.
As fissuras são
facilmente observadas, com exceção do tipo 1 no qual as sujidades podem
encobrir e dificultar a sua visualização e levar a falhas no diagnóstico. O
examinar o dígito, é essencial a palpação da banda coronária. O tipo 1 está
muito sujeito a infecção e resultar em abscessos dolorosos abaixo do tecido córneo. Apenas
algumas das grandes fissuras causam manqueira. Entretanto, o foco da manqueira
sempre deve ser a fissura, quando estiver presente na pata dolorida.
TRATAMENTO
A maioria das
fissuras verticais em gado de corte são benignas e não requerem tratamento.
Somente algumas fissuras do tipo 1 são infectadas. Neste caso, deve ser
realizado um pequeno desbaste na região inflamada para facilitar a drenagem.
Usualmente, não é necessária anestesia para este procedimento, porque o tecido
a ser removido já está isolado. Entretanto a ferida deve ser protegida com
adstringente antibacteriano visando reduzir a produção de tecido de granulação.
Um curativo de bandagem deve ser colocado ao redor da banda coronária.
Tratamento
cosmético assim como methyl methacrylato para estabilizar o tecido, pode ser
experimentado, mas esta intervenção apresenta resultado duvidoso na resolução
da lesão. Caso a manqueira esteja presente em uma pata que apresente uma
fissura, esta deve ser submetida ao debridamento e desbaste, para remoção de
debris ou corpo estranho possivelmente presente neste local. Para minimizar o
movimento de uma grande fissura durante o apoio da pata ao solo, a unha afetada
deve ser submetida ao casqueamento, visando aliviar a pressão.
O possível
benefício do efeito da biotina na qualidade do tecido córneo da unha tem
atraído muita atenção. Embora o rúmen sintetize quantidades adequadas de
biotina e vitaminas, sabe-se que a demanda aumenta durante períodos de estresse
e o nível sangüíneo de biotina encontrado nos animais enfermos foi menor do que
nos animais normais.
CONTROLE
O controle da
fissura vertical é de maior preocupação somente em vacas parideiras, as quais
possuem uma elevada incidência (mais de 35% dos animais adultos afetados).
Embora medidas de sucesso no controle tem sido reportadas, somente algumas
recomendações podem ser feitas:
·
Estimular a condição de escore
corporal particularmente na primavera. O peso corporal acima da média pode
predispor às fissuras. Alguns produtores podem ser obrigados a descartarem seus
estoques antes da estação de parição, apesar da excelente condição.
·
Examinar as unhas de pelo menos
metade dos animais maduros. Em casos de elevada ocorrência adotar medidas
profiláticas de manejo.
·
Investigar a possibilidade de
uma possível deficiência mineral
BIBLIOGRAFIA
1. Clarkson MJ, Downham DY, Faull WB, et al: An
epidemiological study to determine the risk fators of lameness in dairy cows. (University of Liverpool, Faculty
of Veterinary Science CSA 1379, 1993.
2. Westra R.: Hoof problems in catlle - is there a relationship with
trace mineral level? Proceedings of the 2nd Western Nutrition Conference.
Edmonton, Alberta, Canada, 1981, PP 114-132.
3. Goonewardene LA, Hand RK: A study of hoof
cracks in grazing cows – association with age, weight and fatness. Can J Anim Sci 75:25 – 29, 1995.
4. Weaver AD: Bovine Surgery and Lameness. Oxford, UK, Blackwell
Scientific Publications, 1986, PP 199 – 200.
5. Scott GB: Lameness and pregnancy in Friesian
dairy cows. Br Vet J 144:273 – 281, 1988.
6. Greenough PR, Vermunt JJ, Mc Kinnon JJ, et al:
Laminitis – like changes in the claws of feedlot cattle. Can Vet J 31:202-208, 1991.
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